Se o cérebro é um órgão que não dói, por que temos dor de cabeça?
Saúde/Ciência
Publicado em 24/06/2016

- - Ela chega de mansinho, começa a incomodar e só passa depois de uma boa dose de analgésico. - - Quem nunca sofreu com aquela dor de cabeça que teima em não passar? - - De acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia, sete em cada 10 mulheres e metade dos homens têm pelo menos um episódio de dor de cabeça ao mês no Brasil.

- - O curioso é que, diferentemente de outros órgãos, a dor na cabeça não é um indicativo —pelo menos na grande maioria dos casos— de que o cérebro não vai bem. - - E por um motivo bem simples: nosso cérebro "não sente dor".

- - O que dói, na verdade, são as lesões em estruturas que ficam bem próximas ao cérebro e que tem sensibilidade a dor, como as membranas que envolvem o órgão (meninges) e os ossos (periósteos), os vasos sanguíneos, o couro cabeludo e a musculatura da cabeça e o pescoço. - - O cérebro mesmo é tão insensível aos estímulos dolorosos que nem é preciso aplicar anestesia no tecido cerebral durante uma operação, permitindo que muitos pacientes fiquem acordados durante todo o procedimento.

- - > E por que ele não dói?

- - Em nosso corpo, existem milhares de neurônios sensoriais, chamados de nociceptores, cujo trabalho é informar ao cérebro que algo não está bem. - - Alguns, detectam substâncias químicas nocivas, outros percebem temperaturas altas ou baixas demais e outros detectam danos a nossa estrutura física, como torções, fraturas e queimaduras.

- - Os nociceptores também variam pela maneira como entregam essas mensagens ao cérebro. - - Alguns são responsáveis por avisar sobre a primeira "explosão de dor" que temos quando algo acontece (como bater o dedo na porta). - - Outros estão relacionados à dor difusa, ou seja, aquela que fica incomodando lentamente.

- - Quando batemos uma parte de nosso corpo ou acontece alguma lesão nas estruturas internas (no caso da dor de cabeça), esses sensores enviam uma mensagem de dor a medula espinhal que a repassa para o cérebro.

- - Quando o sinal de dor atinge o cérebro, ele vai para o tálamo que o direciona para diferentes áreas de interpretação e o corpo entende que algo errado aconteceu. - - É aí que o órgão consulta sua "biblioteca" de emoções e indica a intensidade da dor. - - O problema é que, embora nosso cérebro seja um supercomputador que traduz a dor, ele não possui nociceptores em sua estrutura, por isso não consegue sentir dor.

- - > O problema pode estar em outro lugar:

- - Além de incidentes nas membranas e vasos sanguíneos, a dor de cabeça pode acontecer por outros fatores. - - De acordo com um artigo publicado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, o cérebro também pode se equivocar na localização da dor, uma vez que existem diferentes tipos de tecidos e nervos em nossa cabeça (alguns muito pequenos).

- - É o que acontece, por exemplo, com a sinusite. - - Embora a doença esteja relacionada a um processo inflamatório dos seios da face, sentimos que a dor está no centro da cabeça. - - Esse tipo de dor é conhecido como "dor referida". - - É quando alguém diz sentir dor no braço ao ter um infarto ou dor no peito ao ter um problema no pulmão.

- - Um outro exemplo dessa "confusão" acontece no processo conhecido como "brain freeze". - - Quando ingerimos algo muito gelado, como um sorvete, sentimos uma espécie de "pontada" na cabeça. - - No entanto, o "problema" está em nossa boca.

- - Ao tomar algo muito gelado, os vasos sanguíneos da boca se ampliam muito repentinamente, ativando os nociceptores da boca. - - Segundo o artigo, infelizmente, esses nociceptores não são muito precisos em sua descrição de onde a dor está vindo, então eles criam uma sensação de dor no meio da cabeça.

- - - - - - > Especialistas consultados: Marcelo Amato, neurocirurgião e cirurgião de coluna, e Mario Fernando Peres, neurologista do Hospital Albert Einstein

 

- - - - - - > Thinkstock/Uol/Site Flipboard - Cintia Baio - Colaboração para o UOL- 31/05/2016 - 06h00

 

 

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