Alta de 0,16% do IPCA em setembro poderia ter sido inferior não fossem os reajustes dos combustíveis e das passagens aéreas
RC - Rodolfo Costa/Site Estado de Minas
Postado em 07/10/2017 06:00 / Atualizado em 07/10/2017 07:39
O custo de vida no país voltou a ser pressionado. Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado o indicador oficial de inflação – subiu 0,16%. Embora abaixo da variação de 0,19% em agosto, o ritmo dos preços mostra certo esgotamento do processo de recuo que o custo de vida vem apresentando no país, uma vez que, no mesmo mês do ano passado, o IPCA havia subido 0,08%. No período acumulado dos últimos 12 meses, a taxa ficou em 2,54%, superior ao nível de 2,46% registrado em idêntica base de comparação até agosto, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
SAIBA MAIS
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Ainda assim, a inflação acumulada de janeiro a setembro foi de 1,42%, menor resultado para o período analisado desde 1998. Os combustíveis ficaram 1,91% mais caros em setembro, o maior impacto positivo sobre a inflação do mês, o equivalente a uma contribuição de 0,10 ponto porcentual para a taxa de 0,16%. O litro do etanol subiu, em média, 0,63% em setembro, enquanto a gasolina encareceu 2,22%.
Dentro do período de coleta do IPCA de setembro, foram anunciados pela Petrobras 19 reajustes de preços da gasolina que, acumulados, resultaram em aumento de 4,65% nas refinarias. Em contrapartida, as passagens dos ônibus urbanos tiveram redução de 0,97% no mês. “Isso foi a redução na tarifa de ônibus no Rio de Janeiro, que passou de R$ 3,80 para R$ 3,60, em 2 de setembro”, disse Fernando Gonçalves, gerente da Coordenação de Índices de Preços do IBGE.
Os preços das passagens aéreas subiram 21,90%, na média, em setembro, correspondendo a um impacto de 0,07 ponto porcentual sobre o IPCA. “O aumento nos preços das passagens aéreas foi por causa da realização do Rock in Rio em setembro”, justificou Gonçalves. Os gastos das famílias com transportes cresceram 0,79% em setembro e pressionaram o IPCA em 0,14 ponto porcentual. Na direção inversa, contribuíram para segurar os preços as deflações de 2,48% da energia elétrica e de 0,56% dos produtos farmacêuticos, além de uma lista de alimentos, liderada pela baixa de 11,01%, em média, dos preços do tomate.
Os reajustes de preços mostram também o esgotamento do caminho de baixa da inflação, quando comparada, ainda, à mediana das expectativas dos analistas de bancos e corretoras, de 0,10%. Nos resultados anteriores, o IPCA oficial registrado veio abaixo das previsões dos analistas consultados pelo Banco Central (BC). Esse desempenho da inflação superior às expectativas reflete queda menor de preços dos alimentos.
Em setembro, os gastos médios com alimentos e bebidas caiu 0,41%. Em agosto, o recuo havia sido de 1,07%. O IBGE aponta que os alimentos para consumo em casa passaram de uma deflação de 1,84% em agosto para taxa positiva de 0,74% em setembro.
A queda menor de preços em setembro foi provocada por uma reversão de deflação para inflação em itens importantes no consumo das famílias. É o exemplo dos preços das carnes, que saíram de uma deflação de 1,75%, em agosto, para inflação de 1,25%, em setembro. O mesmo movimento foi observado nas frutas, que mostravam queda de preços de 2,57% há dois meses, e alta de 1,74% no mês passado.
INDEFINIÇÕES
Apesar do aumento da inflação acumulada em 12 meses, a trajetória do indicador permanece em baixa, ressaltou Fernando Gonçalves. “A taxa continua baixa. Em setembro do ano passado estava em 8,48%”, lembrou Gonçalves. A safra recorde de grãos registrada este ano no país tem ajudado a manter o IPCA baixo. “O efeito da safra recorde tem segurado a taxa da alimentação no domicílio. Foi uma safra muito boa. Muito já foi colhido, mas ainda tem produto sendo escoado, que foi reservado e ainda está saindo para consumo”, disse.
O pesquisador do IBGE observou que a melhora recente do emprego e da renda do trabalho pode aumentar a pressão da demanda sobre o IPCA no futuro, mas ainda não é possível detectar esse efeito sobre os preços. “O emprego está começando a ter uma melhora, e isso tudo contribui para dar espaço para que as pessoas voltem a consumir”, confirmou. O presidente da República, Michel Temer, comemorou ontem o resultado do IPCA acumulado neste ano. “A inflação acumulada no ano é a mais baixa em 19 anos. Reflexo da política econômica adotada quando assumi o governo”, postou Temer no Twitter. (Com agências)
Pressão é maior na Grande BH
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o IPCA subiu 0,24% no mês passado, ficando no empate com a taxa apresentada na Grande Salvador. As duas áreas metropolitanas ocuparam a quarta posição do ranking nacional do custo de vida no país, depois de Vitória, campeã da inflação oficial, que subiu 0,54%, Belém e Campo Grande, essas duas últimas também empatadas, com evolução de 0,33%. O preço da gasolina na Grande BH ficou 2,69%, em média, mais alto em setembro e do etanol subiu 0,14%.
O IPCA na Grande BH acumulou alta de 1,43% no ano e de 2,54% nos últimos 12 meses. Segundo o IBGE, a variação mensal de setembro foi ligeiramente inferior a de agosto (0,30%), influenciada pela deflação observada nos preços dos produtos dos grupos de alimentação e bebidas, que foi de 0,53% negativos, e de artigos de residência, com taxa negativa de 0,11%.
Entre os sete grupos que compõem a pesquisa da inflação oficial com variações positivas, cinco exibiram elevação de preços acima da média. Foram eles: transportes, 0,94%; comunicação, 0,61%; saúde e cuidados pessoais e vestuário, 0,46%.
A lista dos vilões da inflação na Região Metropolitana da capital mineira é capitaneada pelo mamão, cujos preços avançaram 26,73% em setembro. Como no Brasil, a passagem aérea foi destaque, ao encarecer 23,94%. Na direção oposta, contribuíram para conter a inflação na Grande BH os preços em queda de alho (19,51%), morango (15,21%), batata-inglesa (14,33%) e tomate (12,72). Entre os 10 itens que apresentaram variações negativas de preços, nove pertencem ao grupo de alimentos e bebidas.
enquanto isso...
...Gastos vetados
As compras de presentes motivadas pelo Dia das Crianças, comemorado no dia 12, devem ser pressionadas pelos preços elevados dos produtos e pela contenção de gastos das famílias, segundo pesquisa da empresa de serviços financeiros Boa Vista SCPC. Entre 1.100 pessoas consultadas no país, 57% informaram que pretendem gastar quantia igual ou menor do que em 2016 para presentear na data. A elevação de preços foi citada por 34% dos entrevistados, enquanto o corte de gastos foi apontado por 28% como justificativa para não aumentar a despesa com presentes. Ainda foram declarados o pagamento de outras despesas (19%), como contas domésticas; desemprego (10%); e redução de renda (9%). Enquanto isso, 43% pretendem comprar um presente mais caro na data comemorativa. O preço será determinante para a decisão em 40% dos casos.